Um espaço de opinião e reflexão, que me permite partilhar os meus pensamentos, frustrações e alegrias. Mas aviso desde já, se pensam aprender alguma coisa aqui, vão ficar completamente desiludidos.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Citações I

Estive a ver uma antigo caderno (da adolescência) que eu guardava (guardo) com algumas citações e parei nesta que sempre achei engraçada. Concordo plenamente com o Daniel Sampaio, as regras podem ser sempre interpretadas de várias formas, dependendo da pessoa responsável por garantir o seu cumprimento.

«Lembro-me sempre, a propósito das normas, do modo como os professores lidam com a questão das pastilhas elásticas e dos bonés. Sabem que em Lisboa - provavelmente aqui também - cada vez temos mais adolescentes de boné, sobretudo com a pala virada para trás. Vejo professores que acham graça, outros fingem não ver, alguns mandam tirar dentro da sala de aula e outros ainda entendem que só devem permitir às raparigas, numa discriminação sexista fora de moda nos anos noventa. Com as pastilhas ainda é mais curioso. Aprendi numa reunião de professores que havia pelo menos cinco maneiras diferentes de lidar com as pastilhas elásticas dos alunos. Uma professora mais idosa disse-me que não permitia, porque os alunos precisam de estar prontos a falar e era má educação falar com a boca cheia. Um colega respondeu que a escola tinha que garantir a privacidade do aluno e o que estava dentro da boca era do foro íntimo, logo jamais faria qualquer comentário. Retorquiu uma terceira que tudo dependia do modo de mascar a chiclete e por isso tinha de proibir quando "mascavam provocantemente". Gerou-se uma discussão barulhenta, com um professor a perguntar como se podia definir o "mascar provocante" e a autora da expressão a exemplificar, de olho vesgo sobre um maxilar torcido, ao mesmo tempo que dava estalos com a língua. Tentei recuperar a liderança da reunião com um elevar de voz, quando um professor da linha compreensiva disse que era tudo um problema de stress, por isso ele não permitia no dia-a-dia da escola, mas autorizava nos testes "porque aí sim, estão nervosos e precisam descontrair".
Quando eu tentava desesperadamente mudar de assunto, surge a quinta opinião, lançada com vigor por uma professora sanitarista: "É tudo um problema da saúde física, não tem nada a ver com o stress. Eu só deixo mascar depois do almoço, para que a pastilha não estrague os dentes! Noutras horas proíbo. E além disso recomendo sempre sem açúcar!".»
Daniel Sampaio in Voltei à Escola

Adoro este texto não só pela forma como exemplifica as diferentes regras que são criadas acerca de determinado comportamento, dependendo da personalidade e crenças das pessoas, mas também pela forma divertida como aborda a questão.
Quantos de vós, durante o tempo em que estudaram, não se depararam com várias variantes destas regras?

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