30 de Maio
Querida Penelope,
Estive calado durante alguns dias na tentativa de digerir a tua traição. Não consegui. Passou a fúria, mas não a amargura. Sei que nunca te facilitei a vida, mas que necessidade havia, ao fim de tanto tempo, de me dizeres que te apaixonaste por um homem fantástico? Só o rancor te pode ter levado a esta confissão tardia. Se a tua revelação não foi ditada pela perfídia, o que te levou a fazê-lo?
Tenho sido um companheiro transgressor e um pai ausente. É verdade. Talvez a tua fuga fosse mesmo necessária. Tive oportunidade de pensar, de reflectir, de procurar em mim próprio as razões de tantas atitudes minhas infantis e tolas. Compreendi como te feriram os meus ataques de fúria, a minha incapacidade de ter um confronto razoável contigo e com os nossos filhos. Até percebi a causa de certos comportamentos irracionais que agora, a custo, tento controlar. Se não tivesses ido embora, deixando-me perante os factos, em vez de palavras, provavelmente não chegaria nunca a tomar consciência de um mal-estar que vem de longe. E, portanto, estou-te muito grato por isso.
Mas se é verdade que, durante anos, te feri e te humilhei, é igualmente verdade que tu retribuíste as minhas culpas disparando sobre mim à queima-roupa, como um assassino impiedoso. Deixaste-me definitivamente prostrado.
Minha muito amada Penelope, tenho de dizer uma verdade irrefutável: só amei uma mulher. Tu. E perdi-te para aquele detestável Raimondo Maria Teodoli de San Vitale, que um raio o fulmine.
Neste momento, se ainda consideras que erraste por o teres deixado a ele para continuares a viver comigo, estou pronto para te dar o divórcio, assumindo todas as culpas.
Não quero chegar à idade do teu pai contigo a fugir para seguires um amor antigo.
Andrea
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