Cesenatico, 15 de Junho
Querido Andrea,
Recebi a tua última carta num momento particularmente difícil. Deixei-a de lado para a ler quando estivesse um pouco mais serena. Agora já estou. Mas a tua carta desapareceu. Não consigo encontrá-la. Não imaginava que isso me incomodasse tanto. Mas as coisas são mesmo assim. Não queria ver-te nem falar contigo, mas as cartas eram e são uma maneira de dialogar civilizadamente à distância e conseguirmos dizer um ao outro aquilo que calámos em dezoito anos de casamento.
Há alguns dias atrás fui a Bérgamo, a casa de Raimondo Teodolli. Foi uma visita breve e traumatizante. Eu sabia que, em todos estes anos, ele não tinha deixado de me esperar, e queria dizer-lhe que não há nenhuma possibilidade de retomar uma história que acabou, porque a minha família é aquilo que eu tenho de mais importante. Encontrei um homem sofredor, gravemente doente. Não lhe disse nada. Amei-o pela sua dor. Sei que não voltarei a vê-lo.
Regressei aqui a meio da noite e não estava com disposição para ler a tua carta. Deixei-a de lado. Na manhã seguinte já não a encontrei. Vasculhei por todo o lado. Nada. Tenho pena.
Sei que tu, o meu pai e os miúdos estão aa arranjar-se muito bem. Isso consola-me.
Começo realmente a acreditar que era necessária uma separação efectiva para esclarecer um pouco as coisas entre nós. Não sei se teremos um futuro juntos. Mas tenho a certeza de que os meus filhos vão ter uma mãe mais responsável. Sofro com a falta deles. Peço-te que me escrevas depressa.
Penelope
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