Um espaço de opinião e reflexão, que me permite partilhar os meus pensamentos, frustrações e alegrias. Mas aviso desde já, se pensam aprender alguma coisa aqui, vão ficar completamente desiludidos.

sábado, 28 de maio de 2011

Baunilha e Chocolate - Carta VI (Última)

Milão, 20 de Junho

Querida Pepe,

O Luca está contigo, a Lucia e o Daniele estão comigo pela última noite. Amanhã a Sofia  vem buscar a nossa filha para umas férias de barco, no Mediterrâneo. Eu vou levar o Daniele ao aeroporto de Malpensa. Chega a Dublim num voo da Alitalia e dali vai ter a Galway de comboio. Na estação estará o Patrick, o filho mais velho de Mrs. Margareth O’donnell, que o levará até à quinta deles, a poucos quilómetros da cidade. Assim, vou ficar sozinho com a Priscilla, porque o teu pai também se foi embora. Tínhamos combinado ir a Roma juntos, eu para discutir uma oferta de trabalho na RAI, e ele para enfrentar a mulher.
À última hora não me apeteceu ir. Pensei que, no caso de se chegar a algum acordo, eu teria de me transferir para Roma. Francamente, não me apetece afastar-me dos miúdos cinco dias por semana. A Lucia, o Daniele e o Luca, até tu teres ido embora, não tiveram pai. Agora, por sorte minha e deles, já têm, e não tenciono voltar a repetir os erros do passado. Estou a descobrir o que significa amar verdadeiramente os próprios filhos. E sei que te devo isso a ti.
Estou contente por não teres conseguido encontrar a minha última carta. Era uma carta muito feia e não merecia ser lida. Se chegares a encontrá-la, rasga-a sem a abrires. Peço-te isso como um favor pessoal.
Soube há pouco pelos jornais que Raimondo Teodoli faleceu. Lemento por ti. Hoje de manhã li as cartas de Mortimer que tens guardadas na gaveta da escrivaninha. Não fui correcto, eu sei.  Já me perdoaste muita coisa. Se puderes, perdoa-me mais esta. Não fui motivado pela curiosidade, mas pelo desespero, pela necessidade de compreender. Amo-te mais do que tu acreditas.
Nestes últimos dias estive mais do que uma vez a ponto de te telefonar. Não o fiz apenas porque me proibiste de o fazer.
Abraça por mim o nosso pequenino.

Andrea

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